Wednesday, July 30, 2008

Círculos de Ebbinghaus

Todo mundo já deve ter se deparado com a ilusão óptica dos círculos de Ebbinghaus:

Vale a pena então conhecer um pouco mais sobre este cientista, também responsável pelas curvas do esquecimento. :)
Clique aqui e veja mais sobre Hermann Ebbinghaus no Wikipedia.

Tuesday, May 27, 2008

My Blueberry Nights



Elizabeth:
So what's wrong with the Blueberry Pie?


Jeremy:
There's nothing wrong with the Blueberry Pie, just people make other choices. You can't blame the Blueberry Pie, it's just... no one wants it.


Elizabeth:
Wait! I want a piece.




Elizabeth:
Why do you keep them? You should just throw them out.


Jeremy:
No. No, I couldn't do that.


Elizabeth:
Why not?


Jeremy:
If I threw these keys away then those doors would be closed forever and that shouldn't be up to me to decide, should it?


Elizabeth:
I guess I'm just looking for a reason.


Jeremy:
From my observations, sometimes it's better off not knowing, and other times there's no reason to be found.


Elizabeth:
Everything has a reason.


Jeremy:
Hmm. It's like these pies and cakes. At the end of every night, the cheesecake and the apple pie are always completely gone. The peach cobbler and the chocolate mousse cake are nearly finished... but there's always a whole blueberry pie left untouched.


Elizabeth:
So what's wrong with the blueberry pie?


Jeremy:
There's nothing wrong with the blueberry pie. Just... people make other choices. You can't blame the blueberry pie, just... no one wants it.





Elizabeth:
[wiping her tears] How do you say goodbye to someone you can't imagine living without? I didn't say goodbye.


[pause]


Elizabeth:
I didn't say anything. I just walked away.





[last lines]


Elizabeth:
It took me nearly a year to get here. It wasn't so hard to cross that street after all, it all depends on who's waiting for you on the other side.





Katya:
Sometimes, even if you have the keys those doors still can't be opened. Can they?


Jeremy:
Even if the door is open, the person you're looking for may not be there, Katya.

Sunday, December 16, 2007

to live in the past

I tend to live in the past because most of my life is there.
-- Herb Caen --

Thursday, December 13, 2007

Viagem nunca feita

Viagem nunca feita

E assim escondo-me atrás da porta, para que a Realidade, quando entra, me não veja. Escondo-me debaixo da mesa, donde, subitamente, prego sustos à Possibilidade. De modo que desligo de mim, como aos dois braços de um amplexo, os dois grandes tédios que me apertam – o tédio de poder viver só o Real, e o tédio de poder conceber só o Possível.

Triunfo assim de toda a realidade. Castelos de areia, os meus triunfos?... De que coisa essencialmente divina são os castelos que não são de areia?

Como sabeis que, viajando assim, não me rejuvenesco obscuramente?

Infantil de absurdo, revivo a minha meninice, e brinco com as idéias das coisas como com soldados de chumbo, com os quais eu, quando menino, fazia coisas que embirravam com a idéia de soldado.

Ébrio de erros, perco-me por momentos de sentir-me viver.


(O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

Friday, October 12, 2007

Maneira de bem sonhar nos metafísicos

Raciocínio, – tudo será fácil e, porque é tudo para mim sonho. Mando-me sonhá-lo e sonho-o. Às vezes crio em mim um filósofo, que me traça cuidadosamente as filosofias enquanto eu, pajem, namoro a filha dele, cuja alma sou, à janela da sua casa.

(...)

Pulverização da personalidade. Não sei quais são as minhas idéias, nem os meus sentimentos, nem o meu caráter... Se sinto uma coisa, vagamente a sinto na pessoa visualizada de uma qualquer criatura que aparece em mim. Substitui os meus sonhos a mim próprio. Cada pessoa é apenas o seu sonho de si próprio. Eu nem isso sou.

(Maneira de bem sonhar nos metafísicos, O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

Marcha Fúnebre

Tudo quanto vive, vive porque muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente se torna outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.

(Marcha Fúnebre, Livro do Dessassossego, Fernando Pessoa)

Friday, September 21, 2007

Diário lúcido

Diário lúcido (Fernando Pessoa)

A minha vida, tragédia caída sob a pateada dos anjos e de que só o primeiro ato se representou.

Amigos, nenhum. Só uns conhecidos que julgam que simpatizam comigo e teriam talvez pena se um comboio me passasse por cima e o enterro fosse em dia de chuva.

O prêmio natural do meu afastamento da vida foi a incapacidade, que criei nos outros, de sentirem comigo. Em torno a mim há uma auréola de frieza, um halo de gelo que repele os outros. Ainda não consegui não sofrer com a minha solidão. Tão difícil é obter aquela distinção de espírito que permita ao isolamento ser um repouso sem angústia.

Nunca dei crédito à amizade que me mostraram, como o não teria dado ao amor, se mo houvessem mostrado, o que aliás, seria impossível. Embora nunca tivesse ilusões a respeito daqueles que se diziam meus amigos, consegui sempre sofrer desilusões com eles – tão complexo e sutil é o meu destino de sofrer.

Nunca duvidei que todos me traíssem; e pasmei sempre quando me traíram. Quando chegava o que eu esperava, era sempre inesperado para mim.

Como nunca descobri em mim qualidades que atraíssem alguém, nunca pude acreditar que alguém se sentisse atraído por mim. A opinião seria de uma modéstia estulta, se fatos sobre fatos – aqueles inesperados fatos que eu esperava – a não viessem confirmar sempre.

Nem posso conceber que me estimem por compaixão, porque, embora fisicamente desajeitado e inaceitável, não tenho aquele grau de amarfanhamento orgânico com que entre na órbita da compaixão alheia, nem mesmo aquela simpatia que a atrai quando ela não seja patentemente merecida; e para o que em mim merece piedade, não a pode haver, porque nunca há piedade para os aleijados do espírito. De modo que caí naquele centro de gravidade do desdém alheio, em que não me inclino para a simpatia de ninguém.

Toda a minha vida tem sido querer adaptar-me a isto sem lhe sentir demasiadamente a crueza e a abjeção.

É preciso certa coragem intelectual para um indivíduo reconhecer destemidamente que não passa de um farrapo humano, aborto sobrevivente, louco ainda fora das fronteiras da internabilidade; mas é preciso ainda mais coragem de espírito para, reconhecido isso, criar uma adaptação perfeita ao seu destino, aceitar sem revolta, sem resignação, sem gesto algum, ou esboço de gesto, a maldição orgânica que a Natureza lhe impôs. Querer que não sofra com isso, é querer demais, porque não cabe no humano o aceitar o mal, vendo-o bem, e chamar-lhe bem; e, aceitando-o como mal, não é possível não sofrer com ele.

Conceber-me de fora foi a minha desgraça – a desgraça para a minha felicidade. Vi-me como os outros me vêem, e passei a desprezar-me não tanto porque reconhecesse em mim uma tal ordem de qualidades que eu por elas merecesse desprezo, mas porque passei a ver-me como os outros me vêem e a sentir um desprezo qualquer que eles por mim sentem. Sofri a humilhação de me conhecer. Como este calvário não tem nobreza, nem ressurreição dias depois, eu não pude senão sofrer com o ignóbil disto.

Compreendi que era impossível a alguém amar-me, a não ser que lhe faltasse de todo o senso estético – e então eu o desprezaria por isso; e que mesmo simpatizar comigo não podia passar de um capricho da indiferença alheia.

Ver claro em nós e em como os outros nos vêem! Ver esta verdade frente a frente! E no fim o grito de Cristo no Calvário, quando viu, frente a frente, a sua verdade: Senhor, senhor, por que me abandonaste?

Diário ao acaso

Todos os dias a Matéria me maltrata. A minha sensibilidade é uma chama ao vento.

(...)

Ó grandes montes ao crepúsculo, ruas quase estreitas ao luar, ter a vossa inconsciência de, a vossa espiritualidade de Matéria apenas, sem interior, sem sensibilidade, sem onde pôr sentimentos, nem pensamentos, nem desassossegos de espírito! Árvores tão apenas árvores, com uma verdura tão agradável aos olhos, tão exterior aos meus cuidados e às minhas penas, tão consoladora para as minhas angústias porque não tendes olhos com que as fitardes nem alma que, fitável por esses olhos, possa não as compreender e troçá-las! Pedras do caminho, troncos decepados, mera terra anônima do chão de toda a parte, minha irmã porque a vossa insensibilidade à minha alma é um carinho e um repouso... (...)

(Diário ao acaso, O Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

Friday, June 08, 2007

Felicidade

Não creio alto na felicidade dos animais, senão quando me apetece falar nela para moldura de um sentimento que a sua suposição saliente. Para se ser feliz é preciso saber-se que se é feliz. Não há felicidade em dormir sem sonhos, senão somente em se despertar sabendo que se dormiu sem sonhos. A felicidade está fora da felicidade. Não há felicidade senão com conhecimento. Mas o conhecimento da felicidade é infeliz; porque conhecer-se feliz é conhecer-se passando pela felicidade, e tendo, logo já, que deixá-la atrás. Saber é matar, na felicidade como em tudo. Não saber, porém, é não existir.

Só o absoluto de Hegel conseguiu, em páginas, ser duas coisas ao mesmo tempo. O não-ser e o ser não se fundem e confundem nas sensações e razões da vida: excluem-se, por uma síntese às avessas.

Que fazer? Isolar o momento como uma coisa e ser feliz agora, no momento em que se sente a felicidade, sem pensar senão no que se sente, excluindo o mais, excluindo tudo. Enjaular o pensamento na sensação, é esta a minha crença, esta tarde. Amanhã de manhã não será esta, porque amanhã de manhã serei já outro. Que crente serei amanhã? Não sei, porque era preciso estar já lá para o saber. Nem o Deus eterno em que hoje creio o saberá amanhã nem hoje, porque hoje sou eu e amanhã ele talvez já não tenha nunca existido.

(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)