Friday, April 28, 2006

Nossa Glória

Não é verdade que a nossa melhor glória são esses resíduos que deixamos na memória dos outros?

(A Carta Devolvida Pena Filho II, Andorinha, Andorinha, Manuel Bandeira)

carta de Andrade a Bandeira

Treche da carta de Mário de Andrade a Manuel Bandeira.

"Não tenho a pretenção de ficar. O que eu quero é viver o meu destino. Minhas forças, meu valor, meu destino é ser transitório. Isso não me entristece nem me orgulha. E tanto é assim que cumpro o meu destino, que estraçalhando as minhas coisas certas, sinto-me feliz."

(Meu Amigo Mário de Andrade, Andorinha, Andorinha, Manuel Bandeira)

Thursday, April 27, 2006

Segredo da Felicidade

Trecho da carta de Honório Bicalho a Manuel Bandeira.

"O segredo da alegria, da felicidade consiste apenas em... não pensar, em deixar-nos ir através da vida como quem na rua olha distraidamente uma vitrina, sem procurar ver a qualidade e o valor da mercadoria exibida: o que vale dizer que a única coisa boa que existe é a imaginação, a fantasia, o sonho, e que tudo o mais quanto seja ou ao menos possa parecer realidade e verdade, não passa de desilusão e tristeza."

(Um Amigo: Rufino Fialho, Andorinha, Andorinha - Manuel Bandeira)

Friday, April 21, 2006

The Past

The Past
(Ralph Waldo Emerson)

The debt is paid,
The verdict said,
The Furies laid,
The plague is stayed,
All fortunes made;
Turn the key and bolt the door,
Sweet is death forevermore.
Nor haughty hope, nor swart chagrin,
Nor murdering hate, can enter in.
All is now secure and fast;
Not the gods can shake the Past;
Flies-to the adamantine door
Bolted down forevermore.
None can reenter there, -
No thief so politic,
No Satan with a royal trick
Steal in by window, chink or hole,
To bind or unbind, add what lacked
Insert a leaf, or forge a name,
New-face or finish what is packed,
Alter or mend eternal Fact.

A Outra Morte

Na Suma Teológica nega-se que Deus possa fazer com que o passado não tenha sido, mas nada se diz da intrincada concatenação de causas e efeitos, tão vasta e tão íntima que talvez não fosse possível anular um único fato remoto, por insignificante que fosse, sem invalidar o presente. Modificar o passado não é modificar um único fato; é anular suas conseqüências, que tendem a ser infinitas. Por outras palavras: é criar duas histórias universais. (...)

(A Outra Morte, O Aleph - Jorge Luis Borges)

Tuesday, April 18, 2006

Caprichos e Relaxos

(Caprichos & relaxos, Paulo Leminski)


Quem nasce com coração?
Coração tem que ser feito.
Já tenho uma porção
Me infernando o peito.

Com isso ninguém nasça.
Coração é coisa rara,

Coisa que a gente acha
E é melhor encher a cara.

eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora

quem está por fora
não segura
um olhar que demora

de dentro do meu centro
este poema me olha

não sou o silêncio
que quer dizer palavras
ou bater palmas
pras performances do acaso

sou um rio de palavras
peço um minuto de silêncios
pausas valsas calmas penadas
e um pouco de esquecimento

apenas um e eu posso deixar o espaço
e estrelar este teatro
que se chama tempo

Sunday, April 16, 2006

Quintal

(...) as horas que eu passava no quintal eram de treino para a poesia. Na rua, com os meninos da minha idade eu brincava ginasticamente, turbulentamente; no quintal sonhava na intimidade de mim mesmo. Aquele era o meu pequeno mundo dentro do grande mundo da vida...

(O Quintal, Andorinha, andorinha - Manuel Bandeira)

Friday, April 14, 2006

Um instante

Um instante
(Ferreira Gullar)

Aqui me tenho
Como não me
conheço
 nem me
quis
 
sem começo
nem fim
 
 aqui me
tenho
 sem mim
 
nada lembro
nem sei
 
à luz presente
sou apenas um bicho
 transparente

A Chave do Poema

Oras direis: "Mas isso não é poesia, é enigma". Eu vos direi no entanto que toda poesia é enigma. Toda palavra, antes que lhe conheçamos o significado, é um enigma formidável.

(A Chave do Poema, Flauta de Papel - Manuel Bandeira)

Thursday, April 13, 2006

poeta concretista

Já se disse que o poeta é o homem que vê o mundo com olhos de criança, que quer dizer: o homem que olha as coisas como se as visse pela primeira vez; que as percepciona em sua perene virgindade. Imagino que o poeta concretista se esforça por ver as palavras despojadas de todo o seu convencional conteúdo semântico.

(Poesia Concreta II, Flauta de Papel - Manuel Bandeira)

Thursday, April 06, 2006

Viola de Bolso



Mallarmé gostava de redigir em versos os endereços de suas cartas. E não desdenhava desses nadas encantadores, pois certa vez publicou alguns na revista norte-americana The Chap Book, e até pensou em editar uma plaquete mais desenvolvida e com ilustrações da esposa de Whistler. Todavia, só depois da morte do poeta saíram em letra de forma os Vers de circonstance, onde vêm, não só endereços, mas também versos escritos em leques, fotografias, ovos de Páscoa, livros, etc. Tudo isso feito "por puro sentimento estético" e, como desses breves poemas disse Jean Royère - igualando em complexidade e ironia "les morceaux classés". De fato: há tanto de Mallarmé no "Prélude à l'après-midi d'un faune" como nos endereços das cartas do poeta a Mme. Méri Laurent.
(...)

(Viola de Bolso, Flauta de Papel - Manuel Bandeira)

Manuelzinho

Na rua Toneleros tem um bosque, que se chama, que se chama solidão; nesse bosque, nesse bosque mora um anjo, que se chama Alexandre Manuel Tiago de Melo. É um caboclo amazonence nascido por engano em Copacabana; fez, otem, precisamente quatro anos.

Está me palpitando que dará para poeta, como o pai, e será um craque na geração de 75. Digo isso porque o meu xará já se saía com coisas estranhíssimas antes dos quatro anos. Quando foi tomar banho de mar pela primeira vez, achou a água fria demais e botou a boca no mundo. Mas o mar impressionou-o fundamente. Dias depois, deitado na praia com a tia, perguntou-lhe: "O mar fica aí de noite?" Respondeu a tia: "Fica". E Manuel: "Fazendo o quê?" A tia: "Esperando pelo Sol." Manuel: "Pra se esquentar, não é?"

(...)

Manuelzinho viu o minguante e perguntou à mãe: "Mamãe, quem foi que quebrou a lua?" Para mim, a lua de Manuelzinho vale a de Victor Hugo.

(...)

(Manuelzinho, Flauta de Papel - Manuel Bandeira)



ser poeta é ser criança,
é olhar para a natureza e ver apenas o que é singelo.
o poeta sonha e transforma a sua realidade
e viaja, como diria Galeano, sem passagem. ainda bem!
poesia é uma arte? ou uma brincadeira?
o poeta é aquele que brinca com as incertezas do universo
e faz pouco caso de acontecimentos
quando crescer não quero ser poeta,
quero ser criança.
não quero morrer nunca,
porque quero brincar sempre

Wednesday, April 05, 2006

Enigma da Esfinge

Um jovem chamado Édipo, a quem o oráculo de Delfos dissera que estava destinado a assassinar o pai e praticar incesto com a mãe, na estrada de Tebas, brigou com o Rei Laio e matou-o sem saber que era seu pai. Édipo desafiou a Esfinge, que lhe perguntou: "Que criatura anda de quatro de manhã, anda com dois pés ao meio-dia e com três à noite?" "O homem", respondeu Édipo, prontamente. "Na infância ele anda sobre as mãos e os pés, na idade adulta anda ereto e na velhice apóia-se num cajado." Mortificada pela resposta correta, a Esfinge jogou-se de um rochedo e morreu. Encantados, os tebanos nomearam Édipo seu rei e ele se casou com Jocasta, viúva do rei falecido, gerando quatro filhos. Os deuses enviaram uma praga e Édipo soube que tinha assassinado seu pai e casado com sua mãe.

The Fool on The Hill (Beatles)


Day after day alone on the hill,
The man with the foolish grin is keeping perfectly still,
But nobody wants to know him,
They can see that he’s just a fool,
And he never gives an answer,
But the fool on the hill
Sees the sun going down,
And the eyes in his head,
See the world spinning around.

Well on his way his head in a cloud,
The man of a thousand voices talking percetly loud
But nobody ever hears him,
Or the sound he appears to make,
And he never seems to notice,
But the fool on the hill . . .
Nobody seems to like him
They can tell what he wants to do.
And he never shows his feelings,
But the fool on the hill . . .