Monday, November 27, 2006

Five-Cent Nickel Again

só para lembrar um post antigo
http://leoca.blogspot.com/2005/07/nickel.html

Saturday, November 25, 2006

Biografia

Invejo - mas não sei se invejo - aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer.

Que há-de alguém confessar que valha ou que sirva? O que nos sucedeu a toda a gente ou só a nós; num caso não é novidade, e no outro não é de compreender. Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto. Faço férias das sensações.

Compreendo bem as bordadoras por mágoa e as que fazem meia porque há vida. Minha tia velha fazia paciências durante o infinito do serão. Estas confissões de sentir são paciências minhas. Não as interpreto, como quem usasse cartas para saber o destino. Não as ausculto, porque nas paciências as cartas não têm propriamente valia. Desenrolo-me como uma meada multicolor, ou faço comigo figuras de cordel, como as que se tecem nas mãos espetadas e se passam de umas crianças para as outras. Cuido só de que o polegar não falhe o laço que lhe compete. Depois viro a mão e a imagem fica diferente. E recomeço.

Viver é fazer meia com uma intenção dos outros. Mas, ao fazê-la, o pensamento é livre, e todos os príncipes encantados podem passear nos seus parques entre mergulho e mergulho da agulha de marfim com bico reverso. Croché das coisas...Intervalo...Nada.

De resto, com que posso contar comigo? Uma acuidade horrível das sensações, e a compreensão profunda de estar sentindo... Uma inteligência aguda para me destruir, e um poder de sonho sôfrego de me entreter... Uma vontade morta e uma reflexão que a embala, como a um filho vivo... Sim, croché...

(Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

LITANIA

Nós nunca nos realizamos.
Somos dois abismos - um poço fitando o céu.
(Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)

Tuesday, November 07, 2006

cachorro-quente

Cachorro-quente (hot dog) era usualmente chamado de 'frankfurters' (em referência à cidade de Frankfurt na Alemanha), o nome 'cachorro quente' tornou-se popular apenas nos anos 1890. Em 1830, existiam rumores de que os cachorros de rua eram utilizado para se fazer salsichas; nos anos 1840, o termo 'sanduíche de cachorro' (dog sandwich) foi utilizado. Nos anos 18060 uma canção popular 'Der Deitcher's Dog' (escrita por Septimus Winner) cuja letra contém o seguinte


Und sausage is goot: Baloney, of course,
Oh! where, oh! where can he be?
Dey makes ‘em mit dog, und dey makes ‘em mit horse:
I guess dey makes ‘em mit he.


O termo 'cachorro-quente' foi pela primeira vez utilizado numa piada envolvendo o ofegar (pant) do cachorro que foi amplamente divulgado nos anos 1870 "What’s the difference between a chilly man and a hot dog? One wears a great coat, and the other pants." (Qual a diferença entre um homem friorento e um cachorro quente? Um veste um casaco, e o outro ofega.)


(veja mais em http://en.wikipedia.org/wiki/Hot_dog)

Cheio de Nove Horas

A história consagrou as nove horas (da noite) como a hora em que as pessoas deviam se recolher. Era a hora de interromper uma visita, um jogo ou qualquer diversão e ir para casa. O Brasil adotou esse costume, documentado em diversos textos, inclusive num poeminha popular do século XIX:

Nove hora! Nove hora!
Quem é de dentro, dentro!
Quem é de fora, fora!


Nessa época, o regulamento do serviço policial do Rio de Janeiro e de outras cidades brasileiras tinha um dispositivo advertindo que, depois das nove horas, 'ninguém será isento de ser apalpado e revistado'.

E foi nesse mesmos século que surgiu a adjetivação 'cheio de nove horas' para o sujeito cheio de regras, de censuras e de limites às alegrias alheias.

(A Casa da Mãe Joana, Reinaldo Pimenta)

signo lingüístico

Os termos implicados no signo lingüístico são ambos psíquicos e estão unidos, em nosso cérebro, por um vínculo de associação.

O signo lingüístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreite) psíquica desse som, a representação de que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la 'material', é somente neste sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito geralmente mais abstrato.

O caráter psíquico de nossas imagens acústicas aparece claramente quando observamos nossa própria linguagem. Sem movermos os lábios nem a língua, podemos falar conosco ou recitar mentalmente um poema. E porque as palavras da língua são para nós imagens acústicas, cumpre avitar falar dos "fonemas" de que se compõem. Esse termo, que implica uma idéia de ação vocal, não pode convir senão à palavra falada, à realização da imagem interior no discurso. Com falar de sons e símbolos de uma palavra, evita-se o mal-estendimento, desde que nos recordemos tratar-se de imagem acústica

(Ferdiand de Saussure)

palavras e símbolos

"os sons emitidos pela voz são símbolos dos estados de alma, e as palavras escritas, os símbolos das palavras emitidas pela voz. E assim como a escrita não é a mesma para todos os homens, as palavras pronunciadas também não são as mesmas, embora os estados de alma dos quais essas expressões constituem os signos imediatos sejam idênticos para todos, como são idênticas também as coisas das quais esses estados são imagens."
(Tzvetan Todorov)

teorias do símbolo

Acrescentamos que, partidário da relação imotivada entre sons e sentidos, Aristóteles é sensível aos problemas de polissemia e de sinonímia que a ilustram; ele a retoma diversas vezes, como por exemplo nas Refutações sofísticas ou na Retórica III. Essas discussões comprovam efetivamente a não-coincidência entre sentido e referente. "Não é verdade, como pretendia Bryson, que não haveria palavras obscenas, uma vez que dizer isto em vez daquilo significa sempre a mesma coisa; é um erro, pois uma palavra pode ser mais precisa, mais semelhante, mais adequada para pôr a coisa diante dos olhos". Mais geralmente, mas também de forma mais complexa, o termo logos designa, em determinados textos, o que a palavra significa, por oposição às próprias coisas, cf. por exemplo Metafísica, "A noção, significante pelo nome, é a própria definição da coisa".
(Tzevetan Todorov)