To see a world in a grain of sand and heaven in a wild flower Hold infinity in the palms of your hand and eternity in an hour (William Blake)
Sunday, July 02, 2006
Un Coup de Dés
O Poeta foge de Paris e se recolhe à solidão da casinha de Valvins. Foi lá que concluíu, em 97, Un coup de dés, tão estranho, a todos os aspectos que o próprio Mallarmé, lendo-o para um amigo, perguntou-lhe depois: -- Est-ce que cela ne nous paraît tout à fait insensé? N'est-ce pas un acte de démence?
É de fato um ato de demência, mas o amigo poderia responder-lhe com as palavras de Novalis: "O poeta é verdadeiramente insensato, e é por isso que tudo acontece realmente nele. O poeta representa, no sentido próprio da palavra, o sujeito-objeto: a alma deste mundo".
"Mallarmé", conta Mauclair, "não nos ensinava. Mas fazia melhor que isso: pelo encanto de suas palavras e de sua pessoa punha cada um de nós em estado de poesia". Foi essa mocidade que, em 97, elevou Mallarmé ao posto de Príncipe dos Poetas, vago com a morte de Verlaine.
Nada porém, desarmava a incompreensão. É verdade que o poeta, por seu lado, nada fazia para desarmá-la. Ao contrário, cada vez se envolvia em névoas mais densas, ironicamente satisfeito de afastar de sua obra os espíritos superficiais, encantados de ver num escrito que nada lhes concerne à primeira vista. Diante da agressão de ininteligibilidade, preferia retorquir que a maioria dos contemporâneos não sabem ler senão jornais.
Às obscuridades naturais resultantes de seu conceito de poesia, juntou as de uma sintaxe própria, substancial e concentrada como uma fórmula algébrica. O que ele escrevia não parece produto do pensamento, mas o próprio pensamento em sua origem e evolução dialética, fecundo em incidentes atentos em se organizar num sistema indeformável à balancement prévu d'inversions.
(O Centenário de Sthéphane Mallarmé, Manuel Bandeira, conferência pronunciada na Academia Brasileira de Letras)
Un Coup de Dés (Mallarmé)
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