A nossa vida de adultos reduz-se a dar esmolas aos outros. Vivemos todos de esmola alheia. Desperdiçamos a nossa personalidade em orgias de coexistência.
Cada palavra falada nos trai. A única comunicação tolerável é a palavra escrita, porque não é uma pedra em uma ponte entre almas, mas um raio de uma luz entre astros.
Explicar é descrer. Toda a filosofia é uma diplomacia sob a espécie da eternidade [_____], como a diplomacia, uma coisa substancialmente falsa, que existe não como coisa, mas inteira e absolutamente para um fim.
O único destino nobre de um escritor que se publica é não ter uma celebridade que mereça. Mas o verdadeiro destino nobre é o do escritor que não se publica. Não digo que não escreva, porque esse não é escritor. Digo do que por natureza escreve, e por condição espiritual não oferece o que escreve.
Escrever é objectivar sonhos, é criar um mundo exterior para prémio [?] evidente da nossa índole de criadores. Publicar é dar esse mundo exterior aos outros; mas para quê, se o mundo exterior comum a nós e a eles é o "mundo exterior" real, o da matéria, o mundo visível e tangível? Que têm os outros com o universo que há em mim?
(Livro do Desassossego, Fernando Pessoa)
To see a world in a grain of sand and heaven in a wild flower Hold infinity in the palms of your hand and eternity in an hour (William Blake)
Friday, January 26, 2007
Sunday, January 14, 2007
O sonho é a pior das cocaínas
O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate - mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.
Como um espectáculo na bruma
Aprendi nos sonhos a coroar de imagens as frontes do quotidiano, a dizer o comum com estranheza, o simples com derivação, a dourar, com um sol de artifício, os recantos e os móveis mortos e [a] dar música, como para me embalar, quando as escrevo, às frases fluidas da minha fixação.
(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)
Como um espectáculo na bruma
Aprendi nos sonhos a coroar de imagens as frontes do quotidiano, a dizer o comum com estranheza, o simples com derivação, a dourar, com um sol de artifício, os recantos e os móveis mortos e [a] dar música, como para me embalar, quando as escrevo, às frases fluidas da minha fixação.
(Fernando Pessoa, Livro do Desassossego)
Friday, January 05, 2007
Petrarca
Francesco Petrarca, Rime in vita e morta di Madonna Laura (1327).
http://italian.about.com/library/weekly/aa021600a.htm
Era il giorno ch'al sol si scoloraro per la pietà del suo factore i rai, quando ì fui preso, et non me ne guardai, chè i bè vostr'occhi, donna, mi legaro. Tempo non mi parea da far riparo contra colpi d'Amor: però m'andai secur, senza sospetto; onde i miei guai nel commune dolor s'incominciaro. Trovommi Amor del tutto disarmato et aperta la via per gli occhi al core, che di lagrime son fatti uscio et varco: Però al mio parer non li fu honore ferir me de saetta in quello stato, a voi armata non mostrar pur l'arco. | It was the day the sun's ray had turned pale with pity for the suffering of his Maker when I was caught, and I put up no fight, my lady, for your lovely eyes had bound me. It seemed no time to be on guard against Love's blows; therefore, I went my way secure and fearless—so, all my misfortunes began in midst of universal woe. Love found me all disarmed and found the way was clear to reach my heart down through the eyes which have become the halls and doors of tears. It seems to me it did him little honour to wound me with his arrow in my state and to you, armed, not show his bow at all. |
http://italian.about.com/library/weekly/aa021600a.htm
Tuesday, January 02, 2007
o amor
"O amor nasce de si mesmo, de repente, sem que o suspeitem. Se ele viesse quando o chamamos e desaparecesse à vontade, não era o que é, uma fatalidade."
(Diva, José de Alencar)
(Diva, José de Alencar)
viver
"Podíamos ficar onde estávamos, tranqüilamente sentados no sofá,... Para que serviria a vida, se ela fosse uma cadeia? Viver é gastar, esperdiçar a sua existência, como uma riqueza que Deus dá para ser prodigalizada. Os que só cuidam de preservá-la dos perigos, esses são os piores avarentos!"
(Diva, José de Alencar)
(Diva, José de Alencar)
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