Thursday, March 30, 2006

Triunfo

Ah não me deixes nunca andar sozinho,
Mas dá-me sempre, em aflição tamanha,
Um pouco de consolo e de carinho.

Ó meu sonho de amor, tu me acompanha
Por esta vida, às vezes tão escura,
Por esta vida, às vezes tão estranha.

E embora a gente humana te não louve,
Hás de viver contente, conhecendo
Que Polímnia te inspira e Apolo te ouve.

Assim falou e a flama em que me acendo
Dentro do coração ia aumentando
Enquanto a doce voz ia gemendo.

E ela, que de Cupido segue o mando,
Cortou no bosque os ramos duradouros
E co'um sorriso milagroso e brando
Me coroou de mirtos e de louros.

(José de Abreu Albano)


"José de Abreu Albano foi um altíssimo poeta, escreveu um dos mais belos sonetos da língua portuguesa e de todas as línguas, viveu perfeitamente feliz dentro do seu sonho, na loucura que Deus lhe deu e na miséria que foi a criação de sua própria mão perdulária." (Manuel Bandeira, Flauta de Papel)

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