Thursday, June 08, 2006

Um romance não escrito

Uma tal expressão de infelicidade era bastante em si mesma para fazer o olhar deslizar pela beira do papel até o rosto da pobre mulher - insignificante sem aquela expressão, quase um símbolo do destino humano com ela. A vida é o que você vê nos olhos dos outros; a vida é o que as pessoas aprendem e, tendo aprendido, nunca, embora o tentem esconder, deixam de estar conscientes - do quê? De que a vida é assim, ao que parece. Cinco rostos opostos - cinco rostos maduros - e o conhecimento em cada um. Por enquanto que seja, como as pessoas querem disfarçar isso! Em todos esses rostos há sinais de reticências: boca fechada, olhos sombrios, cada um dos cinco fazendo alguma coisa para ocultar ou estultificar seu conhecimento. Um fuma; outro lê; um terceiro confere anotações numa agenda; um quarto estuda o mapa da linha pendurado defronte; e o quinto - o que há de terrível em relação ao quinto é que ela não faz absolutamente nada. Fica vendo a vida. Ah, minha pobre, infeliz mulher, não deixe de entrar no jogo - e, em atenção a todos nós, disfarce bem!

(Um romance não escrito, Virginia Woolf)

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