Wednesday, August 02, 2006

poemas prosaicos

Por quê não homenagear também os poetas da atualidade? Poetas que não fogem ao impulso inerente de escapar do prosaico, mas dirigem-se em direção a ele, não como subterfúgio, mas o tornando cerne e sumo de sua retórica. Em meus devaneios deparei-me com duas poesias assaz interessantes, de dois poetas, adversos e acredito, ignotos. Transcrevo-os abaixo:

CRIME AO NADA
(Junia Mortimer)

Morri ontem, e só hoje vi que não deixei
centavo de honra
real de sonho
milhar de prosperidade

Morri ontem, e só hoje olhei o áspero do tronco daquela amendoeira
Só hoje saboreei o cheiro do gosto da canela azeda
Só hoje, não ontem, senti o laranja do vento de a vida continuar em punho nas tardes de maio, nos crespúsculos de junho

Casei-me anteontem, sem dotes
Morri ontem, sem herança
Acordei hoje, sem paraíso

Para quem se interessar, que aos meus, duvido, possa,
tudo que fiz, no nada de sempre querer fazer,
está na segunda gaveta da minha escrivaninha, trancada com chaves que eu esqueci onde as coloquei.

Uma pena...
ah, esses dias de porre!





LUA DE LEÃO
(Sandra Duarte Penna)

ele me que moldável tratável mensurável
frágil? eu sou ágil e posso ressurgir das cinzas.
ele me quer adestrável dirigível decifrável disponível?
me indisponho e disponho de mim a meu
modo. ele me quer redutível subordinável
acessível? jogo minhas pernas em grand-jeté
à distância, lonjura sem juras, sutil
injúria. entre lagarta e borboleta
me defendo.

3 comments:

Anonymous said...

Oi!!!!Passei aqui pra deixar o primeiro comentário!Muito legal seu blog!!!!
Beijos!!!

Anonymous said...

LUX ET UMBRA
Subis te para sempre! e vi te na escada
Molemente rolar os ondulosos
Folhos do teu vestido róseo e a cada
calçada as tuas calçinhas
Ondear..,
senti uns frêmitos nervosos.
Poderia correr todo este mundo,
Ir-te buscar insano e desvairado,
Porque bebes-me o sangue
esse profundo Amor
de tão grande e desgraçado.
Poderia seguir-te e subir a escada
E cair como a sombra tenebrosa,
Que se debruça aos pés da palmeira,
Até que o sol encima e o dia a meio,
A sombra pouco a pouco sequiosa
Viesse me confundir-se no teu seio.

carlos Ac liberal

Anonymous said...

LUX ET... UMBRA
Subis te para sempre! e vi te na escada
Molemente rolar os ondulosos
Folhos do teu vestido róseo e a cada
calçada as tuas calçinhas
Ondear..,
senti uns frêmitos nervosos.
Poderia correr todo este mundo,
Ir-te buscar sano e desvairado,
Porque bebeste-me o sangue
esse profundo Amor
de tão grande e desgarrado.
Poderia seguir-te e subir a escada
E cair com a sombra tenebrosa,
Que se debruça aos pés da palmeira,
Até que o sol encima e o dia a meio,
A sombra pouco a pouco sequiosa
Viesse me confundir-se no teu seio.

carlos Ac liberal