Tuesday, October 03, 2006

dicotomia

Freud assume com satisfação um "fato [...] confirmado por outros lingüistas [de que] as línguas primitivas [...] possuem inicialmente uma só palavra para os dois pontos opostos de uma série de qualidade ou de ações (forte-fraco, velho-jovem, próximo-afastado, unido-separado...)". Os lingüistas escreveram isso, portanto a dúvida está eliminada: "Abel [o lingüista, suposto mestre do saber] nota que o fato é constante em egípcio antigo e observa que se pode encontrar vestígios do mesmo nas línguas semíticas e indo-européias". Assim, a palavra latina altus significa "alto" e "profundo", e a grega aidós, "honra" e "vergonha", a árabe tagasmara, "ser justo" e "ser injusto" etc. Aí está algo próprio para confortar a hipótese de Freud segundo a qual o sonho "prima em reunir os contrários e em representá-lo em um único objeto". Mas a exitência de "línguas primitivas" (ver a "horda primitiva"...) é ilusória; quanto às línguas antigas ou modernas sobre as quais é possível trabalhar, não basta, como faz Abel, "juntar tudo que se assemelha" para concluir que "essas línguas, por mais arcaicas que sejam supostas, escapam ao 'princípio de contradição' afetando como uma mesma expressão duas noções mutuamente excludentes ou simplesmente contrárias". A simples crítica filosófica "díssipa essas miragens".

(Lingüística e Psicanálise, Michel Arrivé)

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